Ensinamentos do Pequeno Príncipe


Algumas frases da obra de Saint-Exupéry se tornaram mundialmente famosas, e acabaram por cair numa certa banalidade em certas ocasiões. O fato é que, além de muitos ensinamentos científicos, pequenas lições disciplinares dissolvidas numa deliciosa narrativa, em seu texto, Antoine compartilhou algumas lições importantes que também devem fazer parte da formação emocional não só das crianças, que um dia serão adultas, mas principalmente de quem cresceu, e esqueceu como era enxergar uma jibóia aberta (ou fechada).
  • Sobre a sensibilidade infantil
Antoine nos ensina que as crianças não são pessoas dispersas, agitadas, desatentas ou com pouco entendimento sobre a vida. Embora não contem com os "anos de janela" dos adultos, elas têm sensibilidade e olhares suficientemente desarmados para resolver as mais difíceis questões com respostas simples. 
O Pequeno Príncipe teve a sensibilidade de ver uma ovelha onde estava desenhada apenas uma caixa... Teria sido essa atitude uma tolice de sua parte? Uma asneira infantil? Não! Prefiro dizer que foi sensibilidade. Ele foi sensível o suficiente para saber que o melhor que aquele piloto apressado, agoniado e sedento podia lhe oferecer era uma caixa. Enxergar a ovelha foi entender, que às vezes, as pessoas com as quais vivemos não podem nos dar o que queremos. Em seus limites humanos, no entanto, elas nos dão o melhor delas. Elas nos dão suas caixas. E nós vemos na caixa o que quisermos, o que precisarmos. Cabe a nós criarmos o conteúdo, cabe a nós criarmos laços. Não devolva as caixinhas que você recebe vazias. Deixe uma ovelhinha dormindo lá dentro.

  • Sobre as prioridades da vida
Muitos personagens de Saint-Exupéry acumularam funções inúteis que consumiam suas vidas. O homem que contava suas estrelas, mesmo sem necessidade; o homem que acendia lampiões durante todo o dia, sem nunca de fato viver o dia; o geógrafo que não estudava o efêmero...
Quantas vezes tomamos algumas funções como prioridades na vida, e acabamos por esquecer qual a razão real de estarmos ali. 
  • Sobre relacionamentos
O Pequeno Príncipe estabelece três relacionamentos fundamentais na obra: com o piloto, com a rosa e com a raposa.
Com o piloto, uma relação de amizade com alguém muito diferente, na idade, nas experiências, mas não na forma de interpretar desenhos. A primeira lição do Pequeno Príncipe para nós é que, mesmo ao lidar com pessoas muito diferentes de nós mesmos, sempre é possível compartilhar algo de bom.

A Rosa, por sua vez, causou algumas decepções ao Pequeno Príncipe. A Rosa tinha necessidades, como proteger-se do sol ou da chuva, mas era difícil ao principezinho compreender aquilo. A segunda lição sobre relacionamentos é: todas as pessoas têm suas necessidades, e nem sempre isso nos agrada. Outra decepção, foi descobrir que a Rosa não era única no mundo em aparência; mil outras eram iguais a ela. Mais um ensinamento: as pessoas tem comportamentos recorrentes, os seres humanos agem de maneiras parecidas, mas às vezes temos a sensação de que algumas são especiais e nunca falham. As pessoas são especiais sim, cada uma à sua maneira, mas todas as pessoas falham, todas as pessoas passam por problemas similares. É inescapável.

A Raposa, sábia conselheira, ensina ao príncipe as bases da amizade. Não pode brincar com ele até ser cativada. E ser cativada significa que ele terá criado laços com ela. Mas como se cria laços? Com a convivência. Com as memórias comuns, com as referências. Com repertório. Nossos amigos entendem exatamente o que queremos dizer. Nossos amigos se lembram de nós por algum detalhe que viram na rua. Para nossos amigos somos únicos no mundo. Esses laços, rede social nenhuma é capaz de substituir.

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